Artigo: O que aconteceu com May Parker?

Na velha tentativa de manter Peter Parker como um eterno garotão, a Marvel acabou por limar da cronologia um dos mais importantes acontecimentos da vida do herói: o nascimento de sua filha.

Porém, cheio de furos e de tentativas infrutíferas de conserto, a história de May Parker acabou se tornando uma lenda urbana e ninguém sabe responder direito a pergunta: Afinal, o que aconteceu com May Parker?

Na década de 90, já entrando na famigerada Saga do Clone, Peter Parker vivia um momento novo que pelo menos para mim era super interessante naquela época.

Os roteiristas não ficaram presos à mesmice e haviam evoluído Peter, lhe dando novas situações, como a morte da Tia May e a vida de casado. Em uma época em que já estavam preparando o terreno para que Ben Reilly assumisse o manto de Homem-Aranha, a Marvel pôde dar um passo ainda mais importante na vida de Peter Parker: Mary Jane estava grávida.
Parecia o momento propício, pois com um novo personagem como Aranha, poderiam trabalhar a vida “normal” de Peter, lhe dando um crescimento e evolução dignos. Um verdadeiro alento para o leitor que o viu se formar no colegial, entrar na faculdade, casar… aquele leitor que foi crescendo junto com o personagem e que agora o veria como um pai de família vivendo feliz para sempre e fim.

Só que não foi assim que as coisas aconteceram. Dentro de pouco tempo e devido às reclamações dos leitores que clamavam por Peter Parker de volta, a Marvel decidiu que era hora de Peter voltar a usar máscara, e resolveram dar um fim no pobre Ben Reilly.

Mas como resolver a situação da filha de Peter (que agora já estava quase pra nascer, com Mary Jane exibindo uma barriga enorme) ? Como um herói que age como um crianção nas batalhas e com o qual os leitores jovens se identificam poderia sair de noite para combater o crime deixando sua esposa com uma criança pequena em casa?

Muito simples. Vamos ver agora o jeito Marvel de se livrar de uma criança em poucos passos.


Primeiro você insere uma mulher misteriosa colocando um pó mais misterioso ainda na bebida de Mary Jane, que faz com que a ruiva entre em trabalho de parto logo em seguida:

Depois você resolve chocar um pouco, usando uma cena desagradável para qualquer leitor, mostrando uma mãe sendo informada que sua filha nasceu morta, revela que uma das enfermeiras era a mesma mulher misteriosa de antes, e para fechar com chave de ouro usa a última página para mostrar o rosto da pessoa que engendrou todo esse sórdido plano de matar um recém nascido. E é claro, tem que ser um vilão de peso que tenha um passado com o herói e motivos de sobra para uma atitude tão doentia. Por que não… Norman Osborn? Ah, ele havia morrido anos atrás. Mas e daí? Norman Osborn voltou para matar a filha do Homem-Aranha, e pronto. Aqui é Marvel, cara!



Resolvido, certo? Bom, nem tanto. Parece que algumas das cabeças pensantes da Casa das Ideias ainda não estavam satisfeitas com essa solução, e resolveram cozinhar durante um bom tempo o que teria acontecido com a pequena May Parker, deixando indícios em praticamente todas as edições.

A situação nunca era escancarada, talvez por medo de uma cobrança mais efetiva dos fãs em um futuro próximo: “Ei, vocês mostraram que a May estava viva, agora queremos ela de volta“, mas o fato é que apesar da bebê nunca ser mostrada, ficava óbvio para quem lia que ela na verdade havia sido sequestrada no parto e estava sendo cuidada por Alison Mongrain (a tal mulher misteriosa) dentro de um iate a mando de Norman Osborn. Tudo para que o vilão pudesse fazer os seus famosos jogos mentais com o pobre Parker quando fosse o momento propício.


Um pacote dentro de um berço podia ser sempre visto nas cenas em que Mongrain aparecia, e ela mesma conversava com o “pacote” usando brinquedinhos e chocalhos. Sim, May Parker estava viva e isso era tão óbvio que chegava a irritar o fato da Marvel estar fazendo segredinho e nunca mostrar a menina. Tudo porque ainda não haviam decidido se seria ou não uma boa ideia manter um Homem-Aranha pai de família. Pessoalzinho meio indeciso, não?

A trama envolvendo Mongrain, o iate, e suas ligações para Osborn duraram um bom tempo, e eram introduzidas de uma forma bem desconexa no meio das histórias normais do Aranha. Estava o aracnídeo por exemplo dando porrada no Electro ou no Rhino corriqueiramente em mais um dia normal, quando a história cortava só para mostrar o iate e a sombra do bebê. Funcionava meio que como um lembrete: “Olhem isso aqui caras, a bebê está viva e isso vai dar um rolo danado”. Bem novela mexicana mesmo.


Até que um tempo depois, para dar uma movimentada na situação, a Marvel mostra uma possível traição de Mongrain, que pensa em contar a verdade para os Parker. Como aqui não é bagunça e ninguém trai Norman Osborn, o eterno Duende Verde manda explodir o iate, e o “pacote” fica sob cuidado dos Scriers, aqueles caras branquelos de capuz preto que eram arroz de festa nas histórias do Aranha na década de 90. Alison Mongrain no entanto, sobrevive ao acidente.

Aqui a trama muda um pouco de figura, pois apesar de continuar sendo tratada de forma “quebrada” dentro das histórias do Aranha, passamos a ter dois caminhos que tratam da situação da pequena May: Os Scriers que estão mantendo a criança sob sua proteção a mando de Osborn, e Robbie Robertson que passa a investigar Alison Mongrain.

Kaine, o clone desfigurado de Peter Parker que também vinha há um certo tempo no encalço de May,  chega a encontrar os Scriers e entra em combate com eles, e é aqui que a história começa a ficar um pouco confusa e o mistério sobre o destino de May Parker começa a surgir. Como depois disso a trama dá uma parada, fica implícito durante um bom tempo da história se Kaine levou a criança.

Quando a história envolvendo o “pacote” finalmente volta a dar as caras na revista, é já na reta final do arco envolvendo Osborn, onde os Scriers entregam “o precioso tesouro” ao Duende e apenas citam que “houve uma certa dificuldade envolvendo Kaine, mas que deu tudo certo”.

Kaine não é mais visto depois disso.

Em contrapartida, Robbie consegue finalmente encontrar Alison Mongrain (que também vinha sendo monitorada por Osborn) e ela promete contar toda a verdade a Peter e Mary Jane, pedindo a Robbie para que a leve até eles.

O problema é que isso acaba não sendo assim tão fácil, pois Osborn coloca o antigo inimigo do Homem-Aranha, o Magma, perseguindo os dois com o objetivo claro de matar Mongrain. E assim, ao chegarem na porta da casa dos Parker, a mulher acaba sendo mortalmente ferida pelo vilão feito de lava. Porém, antes de morrer, Alison consegue falar com Mary Jane e lhe diz que “May está viva“.


E assim chegamos à constatação do que a Marvel vinha cozinhando desde o final da saga do clone, senhores. Finalmente haviam parado de esconder o jogo e assumido que, SIM, May Parker estava viva.

Mas será que isso ia ser simples assim? Claro que não. A novela ainda reservava um final bem desagradável apesar da expectativa gerada com essa última informação.

Mary Jane conta a novidade para Peter, que sai desesperado atrás de Osborn para reaver sua filha. Era um momento épico. Todas as pontas soltas estavam sendo amarradas, e tudo que havia acontecido nas histórias do Homem-Aranha desde a saga do clone levavam àquele momento.

Era a batalha final do Homem-Aranha contra o Duende Verde, valendo um bebê. Valendo May Parker.

Não tinha como esse final épico dar errado. NÃO TINHA COMO.

Mas deu.

Peter chega na mansão de Osborn e encontra um Duende Verde mais louco do que nunca e acreditando ser uma espécie de deus. Um Duende mais maluco do que nunca, e um Homem-Aranha mais puto do que nunca, por ter sido privado do nascimento da sua filha. A luta é bonita, honesta, cheia de diálogos, uma luta pra fã do Aranha nenhum colocar defeito.

Mas aí, como fã do Homem-Aranha sempre tem que ter um desgosto, chega o tão esperado momento em que Peter vai reaver May. E ele chega em um corredor. E ele chega em uma porta. E ele abre a porta.


E, bem… digamos que ele realmente reencontra May Parker.

Sim, amigos. Em um plot twist mais desgraçado que o do Mandarim de Homem de Ferro 3 e em um dos maiores DEBOCHES das histórias em quadrinhos, a Marvel simplesmente empurrou em nossas goelas que a May Parker que Alison Mongrain se referia era A TIA MAY.


É chamar os leitores de burros, sinceramente. Depois de meses e meses nos fazendo acredtar que a bebê estava viva, a Marvel decide mudar de ideia nos 45 do segundo tempo e traz a Tia May de volta à vida com a explicação mais cretina possível.E você aí, reclamando do Homem-Aranha Superior.Teoricamente, a situação “oficial” da filha do Homem-Aranha até então seria essa: ela realmente morreu quando Alison Mongrain colocou aquele pó na bebida de Mary Jane. Porém tudo que foi mostrado pela própria Marvel vai contra isso, o que gera algumas teorias.

A primeira é a de que a pequena May foi realmente levada por Kaine em sua investida contra os Scriers, e isso é reforçado pelo fato do Scrier que entrega o pacote a Osborn estar ligeiramente perturbado e gaguejar ao dizer que conseguiram se livrar de Kaine. Poderia ele estar com medo de falar a verdade e ser morto? O que explicaria também a mudança de planos de Osborn em usar a Tia May, pois afinal Mongrain estava morta e não poderia desmentir sobre qual May estava falando.

Essa teoria porém foi derrubada com o recente retorno de Kaine às histórias do Aranha, agindo hoje em dia como o novo Aranha Escarlate.

A segunda teoria seria de que May na verdade ainda está sob os cuidados de Norman Osborn, estando viva ainda hoje. Osborn estaria esperando o momento certo para usá-la e a garota poderia até estar passando por algum treinamento.

Enfim, são apenas teorias de leitores, mas o fato é que há pontas soltas dentro da própria história que tornam possível um retorno da filha do Homem-Aranha a qualquer momento. Depende apenas da boa vontade de algum roteirista e é claro da vontade da nossa querida Marvel, o que é muito improvável já que a decisão editorial desde One More Day (saga que  acabou com o casamento de Peter e Mary Jane) é manter o Homem-Aranha um personagem solteiro, sempre moleque e jovial e que nunca evolui.

Uma pena.

May Parker aliás, chega a aparecer na saga, como uma possibilidade na vida de Peter. Foi só a Marvel dando mais um tapa na cara dos fãs do Aranha como sempre fazem. Normal.


Para aqueles que tem curiosidade sobre como seria o destino de May Parker se tivesse sido criada normalmente pelos seus pais, uma boa pedida é a série Spider-Girl, escrita por Tom DeFalco e Ron Frenz, e que durou de 1998 e 2008.

Na HQ, Peter Parker se aposentou após perder uma perna em sua última batalha contra o Duende Verde, e May descobre o seu segredo ao se dar conta que herdou os poderes aracnídeos do pai, assumindo assim o uniforme que era de Ben Reilly e se tornando a Garota-Aranha. Algumas histórias iniciais da personagem chegaram a ser publicadas por aqui na época da editora Abril, mas após a transição de editora, não houve interesse na publicação e infelizmente esse material continua inédito por aqui. Uma pena, pois é um quadrinho muito bem escrito e de muita qualidade.

Tom DeFalco aliás adora a personagem e já deixou bem claro que sua ideia era devolvê-la aos pais, o que acabou não sendo feito por decisão editorial, gerando aquela situação terrível da tia May.

O escritor também alega que a saga do clone inicialmente não  foi pensada para durar tanto tempo, devendo ser apenas um arco. Em 2009 DeFalco teve carta branca para publicar uma mini em 6 partes contando essa saga do clone como realmente deveria ter sido, uma espécie de versão do diretor, fora da cronologia oficial, onde ele teve a liberdade para contar a sua história sem imposições de editores. Dois pontos interessantes nessa versão é que Ben Reilly permanece vivo no final, e May Parker nasce saudável. A criança também é sequestrada aqui, mas acaba sendo devolvida por Kaine e temos um final feliz. Uma versão dez vezes melhor que a colcha de retalhos bizarra que a Marvel fez na década de 90. Ah, malditas imposições editoriais…

Recentemente, como parte da megassaga Secret Wars, a Marvel anunciou uma série derivada do Homem-Aranha chamada Renew Your Vows (Renove Seus Votos), escrita por Dan Slott e  que irá mostrar um universo paralelo onde o casamento de Peter e Mary Jane não foi desfeito, e a pequena May Parker cresceu junto a seus pais. 

E é isso. Se a Marvel um dia vai aproveitar esses ganchos (ou seriam furos mesmo?) para trazer a filha do Homem-Aranha de volta é um grande mistério. E sinceramente, acho muito improvável. Infelizmente May Parker permanecerá perdida no limbo editorial.


Sabe como é, eles preferem trazer os filhos gêmeos que a Gwen teve quando traiu o Peter com o Norman Osborn.

Pois é. Vai entender…

Artigo retirado em: ovicio.com.br - Por: Miguel Oliveira

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2 Comentários

  1. Mas a ultima aparicao da gwen ela nem citou esta traição. Seria mais um clone a q traiu. A marvel tentando apagar.

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  2. Peraí, "Garota-Aranha" é um material "muito bem escrito e de muita qualidade"? Eu tava lendo o texto de forma séria até essa parte.

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